segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Superfarta da superestupidez, superignorância e supermediocridade

Certo dia, nos idos anos 90, foi aprovado o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa". A sua implementação foi bastante contestada, em grande parte pelos portugueses, mas penso que os motivos de tal contestação se prendem com o desconhecimento destes argumentos (http://www.priberam.pt/docs/acortog90.pdf):
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- "É indiscutível que a supressão de consoantes mudas ou não articuladas (como "p" na palavra "óptimo") vem facilitar a aprendizagem da grafia das palavras em que elas ocorriam. De facto, como é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que em palavras como concepção, excepção, recepção, a consoante não articulada é um p, ao passo que em vocábulos como correcção, direcção, objecção, tal consoante é um c? Só à custa de um enorme esforço de memorização que poderá ser vantajosamente canalizado para outras áreas da aprendizagem da língua."
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- "A divergência de grafias existente neste domínio entre a norma lusitana, que teimosamente conserva consoantes que não se articulam em todo o domínio geográfico da língua portuguesa, e a norma brasileira, que há muito suprimiu tais consoantes, é incompreensível para os lusitanistas estrangeiros, nomeadamente professores e estudantes de português, já que lhes cria dificuldades suplementares, nomeadamente na consulta de dicionários, uma vez que as palavras em causa vêm em lugares diferentes da ordem alfabética, conforme apresentam ou não a consoante muda."
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Ora bem, já nos podiam ter explicado que o Acordo servia para ajudar as pessoas com défice cognitivo e dificuldades de aprendizagem. Todos nós, os portugueses teimosos, demonstraríamos a nossa solidariedade para com essas pessoas. Ninguém tem culpa de não ter a amplitude cognitiva necessária para aprender quais as palavras cuja consoante muda é um "p" e quais aquelas cuja consoante não articulada é um "c" e ao mesmo tempo efectuar outras aprendizagens relativas ao domínio da língua. Ou de não ser capaz de entender o padrão de organização de um dicionário e de o consultar eficazmente. Se nos tivessem explicado que eram estas as razões, aliás, se as tivessem explicado ao Mundo, talvez até os ingleses tivessem já abdicado de escrever "colour" em favor de "color" ou "dialogue" em prol de "dialog".
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Agora, uma coisa que não entendo é (se calhar este Acordo também foi redigido a pensar em mim): o que se prentende é unificar a ortografia, não é? E a ortografia tem a ver com a forma como se escrevem as palavras, certo? Hm. Então porque é que, à pala do Acordo Ortográfico, os iluminados jornalistas portugueses se acham no direito de criar palavras? Da última vez que consultei um dicionário (acho que ainda o sabia fazer) não me lembro de ter visto por lá a palavra "superotimista". Mas se calhar este é só um superato de objeção face à adoção do Acordo.

3 comentários:

Aiedail disse...

aCtualmente não deve haver criatura tão óPtima como tu no mundo.

The Next Jason Team Member disse...

Tens a certeza de que em "actualmente" a consoante muda é um "c"? E de que em "óptima" a consoante não articulada é um "p"? Como é que sabes, viste no dicionário? Como é que fizeste, tendo o esforço canalizado para uma das tarefas? Continuo a surpreender-me com o teu nível de espectacularidade (e sim, é com "c").

Aiedail disse...

multitasking (que é como quem diz, muitas tascas) ;)