segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Nos diários que vamos escrevendo enquanto os sentimentos nos fazem, o que as letras dizem não somos nós. Nós somos a areia que se escapa por entre os dedos que não temos. Nem dedos nem anéis nem vergonha de os não ter. Nesses diários, o que escreves e o que leio é que os raios de luz dos quais apenas o cheiro se faz sentir por entre a neblina, esperam por mim. A página seguinte escrevo-a eu com a tinta que não passa de mescla lamacenta do que temo com o que choro.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

La liberté

"O que é que queres ser?"

"O que é que queres fazer da tua vida?"

Esta pequena reflexão é dedicada a todas as pessoas que ao longo dos anos me colocaram questões como as acima apresentadas.

Dirijo-me pois a tais pessoas designando-as por "Mentecaptos" (numa mera tentativa de facilitar a comunicação).

Sei de antemão que existem dois tipos de pessoas nesta categoria, as que responderiam a tais questões com frases como "só quero ser feliz" (o que designaria de Mentecaptos Nível 1) e as que se atreveriam numa formulação mais complexa, como "quero ser funcionário público para me pagarem bem, a tempo e horas" (pessoas a quem chamaria de Mentecaptos Nível 2).

Ainda assim, por questões que ultrapassam a delimitação conceptual e se atêm ao domínio prático, opto por me dirigir à classe como um todo.

Pois então, Mentecaptos:

Eu não sei o que quero ser.

O que é isso de querer ser alguma coisa, afinal? E porque é que tenho que querer ser uma só coisa, e não várias?

E ser uma coisa é o mesmo que trabalhar numa coisa? Se eu der aulas, quero ser professora? E se eu não quiser ser professora mas quiser dar aulas? E se eu quiser ser professora e também agricultora e também vendedora de perfumes?

E porque é que o que eu quero ser é a minha profissão? E se eu não quiser ser a minha profissão? E se eu quiser ser um ser pensante - tenho que ser filósofa? Ou um ser artístico - tenho que ser pintora?

E se o que eu quero ser não tiver nada a ver com a forma como ocupo o meu tempo? Se eu quiser ser sarcástica? Ou combativa? Ou crítica?

Eu não sei o que quero ser. Por isso posso ser o que eu quiser, quando eu quiser e SE eu quiser.

La liberté, c'est la possibilité d'être et non l'obligation d'être (Magritte).

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."


David Mourão Ferreira