terça-feira, 8 de novembro de 2011

As noites de "Closure"

As noites de "closure" são as melhores. Não sei porquê, os "closures" da vida (os bem feitos) acontecem sempre à noite. É impensável um "closure" de jeito ao Sábado à tarde ou mesmo a um dia de semana à hora de almoço. Não existe. As noites de "closure" são aquelas em que choramos por pensarmos que perdemos algo que já não tínhamos. Que, muito provavelmente, nunca tivemos. E aí percebemos que finalmente acabou. Só muito mais tarde perceberemos que já tinha acabado. Bem mais tarde. 
As lágrimas que se choram nestas noites são as mais salgadas de todas. Escorregam-nos pela cara até à boca e nem temos tempo de as secar, tal é cadência do choro, tal é a vontade que temos de que elas nunca mais sequem. 
Sem as lágrimas que chorei naquela noite nunca teria percebido quão errados éramos. Não eu. Não tu. Mas nós. Sem que tivesses provocado aquelas lágrimas nunca teria percebido que não eras minimamente merecedor delas e de toda a importância que te dei. 
Escrevo-te como se existisses mas sei que não. Sei que a pessoa que és, não a conheço. A que conheci não és tu, era parte de mim e daquilo que precisava que fosses. Não tu, mas alguém, naquele preciso momento. Hoje já não te preciso, já não te sinto, já não te amo. Hoje estás no teu lugar, o teu Eu verdadeiro, a tua pessoa diferente de tudo aquilo que quero para mim. Hoje podemos ser amigos, ou conhecidos então. Estamos em paz. 
Assim são os dias que sucedem às noites de "closure".

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Às vezes...


Gostava que aqui estivesses, só para te mandar embora. Esse poder fascina-me. O de não te querer junto a mim. Se mil espaços houvesse e nesses mil espaços eu estivesse, gostava que estivesses presente em, pelo menos, novecentos e noventa e nove deles. Um fica só para mim. Para estar sossegada, a pensar em ti e em como te mandaria embora, se pudesse.
Digo a mim própria que não te quero comigo. Não me quero contigo nem acho que seja possível estarmos juntos, nem no mesmo espaço, nem no mesmo tempo, muito menos na mesma vida. Simplesmente porque não dá. Se é difícil perceber porquê? Não, não é difícil. Às vezes conhecemos pessoas que nos fazem sentir bem durante um tempo. E depois deixam de nos fazer sentir bem. Só isso. Mas queremos que continuem connosco, nos vários espaços que ocupamos, nos vários tempos que vivemos. Porque esses espaços sem essas pessoas ficam só connosco e esses tempos ficam para pensar e questionar tudo o que nos rodeia. E às vezes não estamos bem só connosco. E às vezes não é bom termos tempo para pensar.            
Dito isto, é difícil perceber porque é que (às vezes) gostava que aqui estivesses. Mas fazes-me falta.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Palavras

Apetece-me escrever palavras sem nexo, que não compreendas. Palavras cujo peso não seja composto pelo conjunto das letras mas pelos sons que não se podem pronunciar nem ouvir. Apetece-me não sei bem o quê mas apetece-me. E, por uma vez, vou fazê-lo. Não sei o quê, mas vou. Mais uma vez, nada a dizer para além daquilo que já foi dito. Mas porque é que as palavras têm o dom de ser mais definitivas que os sentimentos? Não sei nem nunca vou saber. Não há palavras para descrever o que sou e o que sinto. E ainda bem. 

sábado, 23 de julho de 2011

Numa ponte, em Paris

Há quem espere que o amor surja no cruzamento de dois olhares desconhecidos numa ponte, em Paris. E que daí advenha toda a felicidade do mundo. Toda a que se deseja, pelo menos. A felicidade que invade a alma, que dilata as veias e artérias, que faz bater o coração com uma força que é apenas possível sonhar. Aqui não. A força, mais que sonhada será sentida. E essa força permanece, não se esfuma, não vacila. Faz o coração bater e a cabeça andar à roda, como se fizesse falta um pouquinho mais de oxigénio. Só um pouquinho mais de oxigénio. Mas se mais oxigénio houvesse mais se pensaria e esta força de sonho não gosta de pensamentos de realidade. Com o olhar, o desejo. Com o desejo, o toque. Com o toque, todas as certezas do mundo, toda a eternidade passível de caber num sonho. E por aí adiante. Um emaranhado de perfeições, suspiros, ausência de dúvidas e questões, uma sobreposição de certezas inabaláveis e juras de amor eternas. Juras e promessas e pactos de sangue e beijos na boca. Molhados, sôfregos, infinitos. E abraços apertados e sensações de desfalecimento quando a distância é mais do que se pode aguentar. O milímetro existe para medir as distâncias do amor. Impossível usar-se o centímetro. Impossível. 
E aqui estou eu. Eu que não espero nada. Eu, cujo sonho não passa da pálida consecução de uma realidade tangível. Eu, que não acredito em suspiros sonhados, em certezas inabaláveis. Eu, que só espero que me abraces, com todas as minhas dúvidas. Se a certeza vier em mim, será nos teus braços e não numa ponte, em Paris.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Como é que se esquece alguém que se ama?

"Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 



As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

quinta-feira, 9 de junho de 2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Stuff

Um dia hei-de ser má pessoa. Porque são as más pessoas que as boas pessoas admiram. É das más pessoas que as boas pessoas cuidam, que as boas pessoas amam, de quem as boas pessoas têm saudades. As boas pessoas pensam sempre que podem mudar as más pessoas, que as podem transformar, moldar à sua imagem. As más pessoas são desafios excitantes, inconstantes, imprevisíveis. É a elas que as boas pessoas dedicam o seu tempo, é com elas que sonham, é nelas que pensam quando o quarto está escuro e há tempo para pensar. É por elas que choram de amor e de raiva porque uma má pessoa há-de ser sempre uma má pessoa e é tão difícil mudá-la. 
Um dia hei-de ser má pessoa. Mas não consigo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

True Story



You always hurt the ones you love
The ones you shouldn't hurt at all
You always take the sweetest rose
And crush it until the petals fall

You always break the kindest hearts
With a hasty word you can't recall, so
If I broke your heart last night
It's because I love you most of all


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Curva de Gauss, sua puta!

Oh minha grandessíssima vaca, quem é que tu pensas que és afinal? Achas que podes dominar a minha vida? Achas que me podes tornar feliz e de repente roubar-me isso tudo? Quero que atentes no que te digo, minha ordinária, eu é que mando nos meus estados de humor percebes? Não é a puta de uma linha que comanda a minha vida... Eu é que mando!!! E eu digo que a minha vida é uma linha RECTA, percebes? RECTA!!! Recta e bem alta no eixo dos Y, sempre bem lá no alto! Se continuares a tentar foder-me a vida, juro-te que te apanho num qualquer beco do meu cérebro e te encho essa boca de pancada, oh linha da piça! Quem desenha a linha da minha felicidade sou eu e a tinta PERMANENTE! Não vou deixar que mais ninguém te desenhe, nunca mais!

Espero que tenha ficado claro que não passas de um padrão estúpido e ridículo que um filho da puta de um velho sem nada pra fazer inventou para me foder a vida e que, a partir de agora, morreste. Vai atormentar a vida de outros e nunca mais me apareças à frente. 

Puta!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Se soubesse como o país ia ficar, Otelo teria sido marketeer nos EUA

Otelo Saraiva de Carvalho acaba de lançar um livro que arrisco desde já apelidar de best-seller. O autor, na verdade um talento de marketing desperdiçado na arena militar, faz uso de arrojadas estratégias de promoção da sua obra.

Analisemos pois em detalhe o génio que Portugal desperdiçou:

1) Facto: Otelo sabe que os leitores estão cansados de biografias de líderes de sucesso, exemplos de perseverança e resiliência, pessoas guiadas por sonhos, ideais ou objectivos. Estratégia: Escrever um livro que relata a história do 25 de Abril, hora a hora, e ao mesmo tempo dizer "Não teria feito o 25 de Abril se pensasse que íamos cair na situação em que estamos actualmente. Teria pedido a demissão de oficial do Exército e, se calhar, como muitos jovens têm feito actualmente, tinha ido para o estrangeiro". Lógica: O leitor, surpreendido pela honestidade contida na incoerência de valores, sente-se impelido a consultar a publicação em que a Revolução é descrita por um interveniente que teria hesitado entre destituir o regime ditatorial e trabalhar nos bâtiments em França.

2) Facto: Otelo conhece o êxito dos reality shows. Estratégia: Escrever um livro que relata a história do 25 de Abril, hora a hora, e ao mesmo tempo dizer "(...) nunca mais punha os pés no quartel, pois não queria assumir esta responsabilidade". Lógica: Otelo demonstra que conduziu a revolução sozinho, e, como tal, a descrição que efectua no livro mais não é do que a enumeração dos seus próprios actos naquele dia. Este é um elemento que abre espaço também à expressão de emoções, algo muito apreciado pelos espectadores de reality shows:
"16h00: Caramba pá se tivesse ido com o Armindo prós bâtiments já a esta hora tava de papo cheio, tinha uma francesa em casa à espera e bem me livrava desta alergia aos cravos, raios partam isto, pró que me havia de dar".
3) Facto: Otelo sabe que hoje são as empresas, e não os governos democraticamente eleitos, que gerem o rumo dos países. Estratégia: Escrever um livro que relata a história do 25 de Abril, hora a hora, e ao mesmo tempo afirmar, a propósito da eventualidade de uma nova revolução em Portugal:  "Se a esta gente voluntária cortarem direitos adquiridos, então o caldo está entornado".  Lógica: Ao enquadrar a revolução no quadro de uma reivindicação corporativa, e não de uma luta contra um regime político, Otelo aproxima a sua história da realidade actual, criando um sentimento de identificação por parte do leitor para com o relato.
Próxima edição nas bancas: Otelo, O Marketeer - "Se soubesse como o Marketing ia ficar, não me tinha dedicado à escrita. Ficava com os louros de uma revolução pela qual me atribuem responsabilidade e já me dava por satisfeito".

segunda-feira, 21 de março de 2011

E eis que a felicidade chega, no preciso momento em que estamos prontos para a receber de braços abertos.  Podíamos já não nos lembrar da leveza do seu toque, da frescura do seu cheiro, mas com certeza recordamos a doçura do seu sabor. E os dias e anos preparam-nos para a viver na sua plenitude, sem medo e sem pensar, porque aprender é isso mesmo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Nos diários que vamos escrevendo enquanto os sentimentos nos fazem, o que as letras dizem não somos nós. Nós somos a areia que se escapa por entre os dedos que não temos. Nem dedos nem anéis nem vergonha de os não ter. Nesses diários, o que escreves e o que leio é que os raios de luz dos quais apenas o cheiro se faz sentir por entre a neblina, esperam por mim. A página seguinte escrevo-a eu com a tinta que não passa de mescla lamacenta do que temo com o que choro.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

La liberté

"O que é que queres ser?"

"O que é que queres fazer da tua vida?"

Esta pequena reflexão é dedicada a todas as pessoas que ao longo dos anos me colocaram questões como as acima apresentadas.

Dirijo-me pois a tais pessoas designando-as por "Mentecaptos" (numa mera tentativa de facilitar a comunicação).

Sei de antemão que existem dois tipos de pessoas nesta categoria, as que responderiam a tais questões com frases como "só quero ser feliz" (o que designaria de Mentecaptos Nível 1) e as que se atreveriam numa formulação mais complexa, como "quero ser funcionário público para me pagarem bem, a tempo e horas" (pessoas a quem chamaria de Mentecaptos Nível 2).

Ainda assim, por questões que ultrapassam a delimitação conceptual e se atêm ao domínio prático, opto por me dirigir à classe como um todo.

Pois então, Mentecaptos:

Eu não sei o que quero ser.

O que é isso de querer ser alguma coisa, afinal? E porque é que tenho que querer ser uma só coisa, e não várias?

E ser uma coisa é o mesmo que trabalhar numa coisa? Se eu der aulas, quero ser professora? E se eu não quiser ser professora mas quiser dar aulas? E se eu quiser ser professora e também agricultora e também vendedora de perfumes?

E porque é que o que eu quero ser é a minha profissão? E se eu não quiser ser a minha profissão? E se eu quiser ser um ser pensante - tenho que ser filósofa? Ou um ser artístico - tenho que ser pintora?

E se o que eu quero ser não tiver nada a ver com a forma como ocupo o meu tempo? Se eu quiser ser sarcástica? Ou combativa? Ou crítica?

Eu não sei o que quero ser. Por isso posso ser o que eu quiser, quando eu quiser e SE eu quiser.

La liberté, c'est la possibilité d'être et non l'obligation d'être (Magritte).

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."


David Mourão Ferreira

domingo, 2 de janeiro de 2011

Este ano...

...não há desejos, só concretizações!


Um Feliz 2011!