sábado, 23 de julho de 2011

Numa ponte, em Paris

Há quem espere que o amor surja no cruzamento de dois olhares desconhecidos numa ponte, em Paris. E que daí advenha toda a felicidade do mundo. Toda a que se deseja, pelo menos. A felicidade que invade a alma, que dilata as veias e artérias, que faz bater o coração com uma força que é apenas possível sonhar. Aqui não. A força, mais que sonhada será sentida. E essa força permanece, não se esfuma, não vacila. Faz o coração bater e a cabeça andar à roda, como se fizesse falta um pouquinho mais de oxigénio. Só um pouquinho mais de oxigénio. Mas se mais oxigénio houvesse mais se pensaria e esta força de sonho não gosta de pensamentos de realidade. Com o olhar, o desejo. Com o desejo, o toque. Com o toque, todas as certezas do mundo, toda a eternidade passível de caber num sonho. E por aí adiante. Um emaranhado de perfeições, suspiros, ausência de dúvidas e questões, uma sobreposição de certezas inabaláveis e juras de amor eternas. Juras e promessas e pactos de sangue e beijos na boca. Molhados, sôfregos, infinitos. E abraços apertados e sensações de desfalecimento quando a distância é mais do que se pode aguentar. O milímetro existe para medir as distâncias do amor. Impossível usar-se o centímetro. Impossível. 
E aqui estou eu. Eu que não espero nada. Eu, cujo sonho não passa da pálida consecução de uma realidade tangível. Eu, que não acredito em suspiros sonhados, em certezas inabaláveis. Eu, que só espero que me abraces, com todas as minhas dúvidas. Se a certeza vier em mim, será nos teus braços e não numa ponte, em Paris.

1 comentário:

Mariana disse...

Em duas palavras: BRU-TAL! ;)*