segunda-feira, 13 de setembro de 2010

"P'ra quem mora lá, o céu é lá"

O caminho era estreito e tortuoso. A lama cobria rapidamente as pegadas acabadas de imprimir. Os ramos das árvores eram riscos difusos entrecortando o nevoeiro quente e pesado. Dos medronhos maduros pingava a goma que aos poucos lhes cobria a pele. O sol rompia, ardente, o manto de folhas que lhes pendia sobre as cabeças. Dos caracóis dela caíam pingos grossos que lhe escorriam pelas costas. As mãos dele, transpiradas, escorregavam das mãos dela. A humidade pesava-lhes nos músculos, nos ossos, na pele. Os movimentos eram lentos e espaçados.
Não tinham pressa.
Não iriam para outro sítio que não aquele,
não viveriam outra vida que não aquela,
não queriam nada para além do que ali tinham.

2 comentários:

Aiedail disse...

A chuva encerra em si, normalmente, coisas extraordinárias. O céu, se eventualmente existir, depende de nós. É aqui.

Ilka disse...

:)