domingo, 22 de agosto de 2010

O que há em mim é sobretudo cansaço

"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, e um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo. Íssimo,
Cansaço."

Álvaro de Campos

4 comentários:

The Next Jason Team Member disse...

Álvaro, filho, como te compreendo! Olha, temos duas vagas disponíveis no Grupo Azurée & Aiedail, S.A., não queres candidatar-te?

Aiedail disse...

lol Fogo, gostas mesmo de homens complicados! Padrãozinhoooo :D

The Next Jason Team Member disse...

Mas é um padrão de níbel :)

Aiedail disse...

É sim senhor! Tu é só complicados de qualidade :D